Em julho de 1992, durante o I Encontro de Mulheres Latino-americanas e afro-caribenhas, instituiu-se o 25 de julho como o Dia da Mulher Negra da América Latina e do Caribe. Em princípio, podemos questionar se o dia internacional da mulher não é suficiente para articular a luta das mulheres, ou ainda, se esta iniciativa não significa dividir as lutas e os movimentos de mulheres. Embora reconhecendo e fortalecendo historicamente o 8 de março, data importante para o calendário feminista, rejeitamos aqui qualquer perspectiva de considerar as mulheres como sujeito único.
A realidade das mulheres negras, em particular, na América Latina e no Caribe, expressa nos indicadores sócio-econômicos, revela as desigualdades entre mulheres negras e não negras.
Contexto Estadual
No Ceará, a pertinência desse tema torna-se ainda mais fundamental num estado onde oficialmente é negada a existência do povo negro que somada com as desigualdades de gênero, institucionalizadas ou não, implica na negação de direitos humanos das mulheres negras.
A conquista da consciência das dominações de gênero, de raça e de classe pelo movimento de mulheres negras brasileiras, fruto das contradições produzidas no âmbito do modelo capitalista (colonialista e patriarcal), contribui de forma decisiva para a análise dos níveis de exclusão – social, econômica, política e cultural - das mulheres negras nesta sociedade, colocando-nos o desafio de construir estratégias para a superação realidade.
Contexto Local
Na comunidade Rosalina, as condições de vida das mulheres negras revertem-se de contornos peculiares tanto no que concerne às desigualdades de gênero quanto às relações étnico-raciais. No que tange às relações étnico-raciais, o Estado consolidou um discurso da inexistência negras e negros em sua formação, contribuindo para invisibilização de parcela significativa da comunidade local, contrariando, inclusive os dados oficiais que informam que 57,51% da população cearense declarou-se, no Censo do ano de 2000, parda e preta. Esse discurso ideológico contribui mascara formas de racismo e discriminação nada sutis determinantes para o lugar de exclusão e subordinação de parcela expressiva da população local.
No mercado de trabalho as mulheres negras formam a parcela mais pobre da sociedade cearense, ocupando posição subalterna nos postos de trabalho, recebendo os mais baixos salários, enfrentando maiores dificuldades de acesso à educação de qualidade, conforme consta os dados de pesquisas oficiais e não oficiais. A desigualdade racial e social pode ser observada no Ceará que apresenta um IDH de 0,708 para a população branca e de 0,611 para a população negra. A Articulação de Organização de Mulheres Negras Brasileira- AMNB destaca que essas desigualdades na vida cotidiana das mulheres negras são traduzidas em menor escolaridade, empregabilidade e expectativa de vida, colocando-as em situação de vulnerabilidade.
Neste cenário de violência e exclusão as mulheres negras são duplamente afetadas por essa ideologia da invisibilização na comunidade da Rosalina, sendo atingidas de uma só vez pelas desigualdades de gênero e pela discriminação racial. Sem dúvida, as mulheres negras da comunidade estão inseridas na parcela mais pobre da sociedade fortalezense ocupando posição subalterna nos postos de trabalho, recebendo os mais baixos salários, enfrentado maiores dificuldades de acesso à educação de qualidade, habitacional e outras questões sociais.
A constatação desse quadro injusto e por acreditarmos nas possibilidades de rupturas com este modelo racista e patriarcal, a partir da organização e atuação das mulheres negras é que o GRUPO SOMOS ROSAS LINDAS, mais uma dos grupo e organização de mulheres negras de fortaleza, desenvolve seu trabalho. Considerando oportuno entre outras iniciativas demarcar no dia da consciência negra e do 25 de julho um espaço político que proporcione reflexões e debates sobre a realidade das mulheres negras local é que propusemos o projeto ELAS NA FAVELA DA ROSALINA. Queremos fazer desse espaço um caminho para denunciarmos esta realidade desigual, assim como, dar visibilidade e fortalecer as diversas iniciativas das mulheres negras da comunidade da Rosalina e suas lutas de enfrentamento ao racismo e ao patriarcalismo.
Objetivos Geral:
- Divulgar as ações do GRUPO SOMOS ROSAS LINDAS na comunidade da Rosalina
- Captação de novas voluntárias para o GRUPO
- Ampliar a articulação do GRUPO dentro da comunidade da Rosalina
- Contribuir juntos as mulheres negras para a superação do quadro de desigualdades sociais, formulando e executando políticas supletivas de atendimento a mulheres negras adultas e adolescentes em situação de risco pessoal e social, tendo a educação para cidadania como eixo político pedagógico.
- Desmistificar que no Ceará não tem população negra e que não tem racismo;
- Contribuir no fortalecimento da identidade, da auto-estima e da autodeterminação das mulheres negras na comunidade da Rasalina
- Dar visibilidade aos Dia da Consciência Negra e da mulher Negra da América Latina e do Caribe;
- Suscitar a importância do grupo SOMOS ROSAS LINDAS na luta contra o racismo e o patriarcalismo.
Específicos:
- Oferecer oportunidade de acesso a atividades socioeducativas, culturais e especialidades médicas e jurídicas às mulheres negras adultas e aos adolescentes em situação de vulnerabilidade e risco na – comunidade da Rosalina.
- Promover no GRUPO SOMOS ROSAS LINDAS desenvolvimento da criatividade, autonomia, integração cultural e capacidade de cooperação em atividades artísticas na comunidade da Rosalina.
- Atender e orientar mulheres e adolescentes atendidos residentes na comunidade da Rosalina.
Público alvo:- Mulheres negras e adolescentes moradoras da favela da Rosalina em Fortaleza.